São duas e cinquenta e oito da manhã. Acabo de me despertar de um sonho lindo... Era jovem, dezessete anos, cabeludo... Estava na velha sorveteria do Jaçanã onde, de repente, uma visão linda e arrebatadora de uma menina aflorando em corpo de mulher entra com um imenso rabo de cavalo descendo por suas costas, pernas roliças, e com uma bundinha arrebitadamente linda também. Sua pele tinha a alvura da neve...
Acredito que em fração de minutos, meu sonho me transportou por tempos inesquecíveis e adoráveis da minha juventude, onde pude vislumbrar mais uma vez, como se fora um presente divino, aquela que não mais que de repente, seria a futura mãe de meus filhos.
Enquanto eu sonhava, ia ouvindo ao longe o Oswaldo Montenegro cantando “eu amava como amava um cantor...” Essa música, se não me engano se intitula “Lua e Flor”, em algum momento de nossa história, passou a ser uma das músicas mais queridas dela. Coincidência? A tv estava ligada e o programa Altas Horas devia estar apresentando aquele compositor enquanto eu, em sonho, estava na sorveteria do Agnaldo, meu amigo de adolescência...
Perdi o sono e comecei a pensar em quantos, não poucos, relacionamentos terminam embalados pelo clássico "é melhor sermos apenas bons amigos". Mas o coração tem mesmo razões que a razão desconhece. Muitos acreditam que é estranho começar uma relação de amizade com uma pessoa que já dormiu sem roupa com você, é muito difícil dissociar o título de ex-marido do de novo amigo. Nós fizemos com que isso se tornasse uma coisa perfeitamente possível. Mas, no nosso caso, particularmente, o amigo que também é ex-marido não é um amigo como outro qualquer. Já nem nos lembramos dos tempos de escovas de dentes unidas. Mesmo naquele tempo nós éramos grandes companheiros. Havia uma identificação muito grande entre a gente. Mas aconteceu uma transformação completa na nossa relação, tanto para o mal, quanto para o bem da gente.
Depois que nos separamos, passamos por um bom tempo sem falarmos um com o outro, mas em função dos filhos, nossos encontros tinham que necessariamente acontecer, ocasionalmente. Eu sentia muita saudade da amizade dela, mas achava que era impossível a gente ser amigo porque a nossa história foi muito intensa e bem assim, casamos muito novos. Até que um dia a gente se reencontrou de uma forma diferente, mais maduros e mais sofridos, e passamos a alimentar um papo ótimo, passamos a rir juntos, conversar sobre tudo como se tivéssemos nos visto na véspera. E o que foi melhor, sem nenhuma mágoa. Aí eu refleti e vi que era ridículo desperdiçar a nossa identificação e as nossas afinidades em função de um preconceito bobo.
É preciso dar tempo ao tempo. Amizades não se constróem da noite para o dia e tudo o que foi vivido como um casal de namorados, deve ficar apenas na lembrança. A proximidade com um ex pode trazer crises de ciúme e insegurança. Por isso, é importante que os dois estejam bem resolvidos e dispostos a começar tudo do zero. Essa pode ser uma ótima oportunidade para se surpreender com novas qualidades e defeitos e ainda garantir um amigo diferente para toda a vida.
Nesta noite ganhei um presente inusitado. Deus me deu nesta madrugada, lembranças tão nítidas de um tempo tão vívido e tão presente em minhas lembranças, que nem mesmo eu imaginava... Nâo importa quantas ex-marcias ou quantos ex-jairos possamos ter tido na vida – nós somos os únicos e eternos “ex” de nós mesmos. Ela sempre será minha eterna ex-mulher e eu serei o eterno ex-marido dela. Nâo importa quanto tempo passemos sem vermos um ao outro, sem falarmos um com o outro, o que importa é que de tudo o que passamos juntos, de bem ou de mal, o que sobrou foi este sentimento inexplicável de “com-paixão” que sinto por ela, e ela, com certeza, sente por mim. Somos os únicos pais de nossos filhos e avós de nossos netos. Somos, acima de tudo, amigos pra toda vida, pau pra toda obra!
Obrigado Deus por me permitir voltar no tempo e ser feliz por poucos momentos novamente!!!
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