quinta-feira, 20 de setembro de 2012

COMO SABER SE AS NOSSAS DECISÕES SÃO COMPATÍVEIS COM A VONTADE DE DEUS

Minha experiência nestes quase quatro anos de convertido aos caminhos de Jesus Cristo,  tem mostrado que uma das áreas de grande conflito na vida cristã é essa busca de saber qual é vontade de Deus. Por que é tão difícil descobrir a vontade de Deus? A maioria dos livros a respeito deste tema se propõe a ajudar você a descobrir a vontade de Deus. A pergunta que estes livros pretendem responder é: “Como descobrir a vontade de Deus?”. Mas o problema não é este, isto é, o processo de descoberta da vontade de Deus. O problema é o conceito que temos em mente a respeito da vontade de Deus que procuramos. O salmista diz o seguinte: “Ele me guia pelas veredas da justiça por amor do seu nome”. Se Deus me guia, me conduz, logo Ele tem uma vontade para mim, é o raciocínio mais comum. A partir destas premissas, creio que construímos um conceito de vontade Deus completamente estranho às Escrituras Sagradas. A Bíblia tem pelo menos dois conceitos para a vontade de Deus, e nós, crentes em Cristo, acrescentamos mais um.

Quando a Bíblia fala de vontade de Deus, fala da Vontade Soberana de Deus, aquilo que Deus faz sem perguntar a ninguém se alguém deseja que Ele faça, e sem perguntar a você se você concorda com o que Ele está fazendo ou deixando de fazer. Foi com esta Vontade Soberana que Deus criou o mundo. Ele não perguntou para ninguém, simplesmente decidiu criar o mundo. Foi com esta Vontade Soberana que Ele deu o seu Filho Jesus para morrer para a remissão dos pecados, e foi movido por esta Vontade Soberana que Jesus Cristo morreu, pois Jesus mesmo disse no capítulo 10 do evangelho de João: “A minha vida ninguém tira de mim, eu de mim mesmo a dou”. Esta Vontade Soberana de Deus, pôr exemplo, é que explica a vocação de Jeremias, ou de Paulo apóstolo, que dizem que “antes que eu nascesse, quando eu ainda estava no ventre de minha mãe, Deus me separou para profeta, Deus me separou para apóstolo” . Deus escolheu e decidiu que Jonas pregaria em Nínive, e ponto final. Mas Jonas não quer pregar em Nínive, pega um navio para outra direção, e Deus insiste em seu plano original, atropelando o livre-arbítrio de Jonas. Isto é Vontade Soberana, a respeito da qual o homem não se pronuncia e não tem como deixar de cumprir. A Bíblia apresenta um Deus assim, um Deus que, sendo Soberano, “tudo faz quanto lhe agrada”. Um Deus que, sendo Soberano, é aquele cujos planos não podem ser frustrados. Não fosse assim, não seria Deus. Um Deus que diz: “Eu tentei fazer, mas não consegui”, não é Deus. Por isso é que o Senhor diz através da boca de Jeremias “agindo eu, quem impedirá”? Deus, portanto, tem sua Vontade Soberana a respeito da sua criação, e a respeito da maneira como administra e gerencia, amorosa, misericordiosa e justamente, esta criação.  Alguém perguntaria: “Não era a Vontade Específica de Deus que José fosse para o Egito?” Não! Era a Vontade Soberana de Deus. Não foi José quem ficou ajoelhado dizendo: “Senhor, qual é a tua vontade, que eu fique aqui na minha casa ou que eu vá ser escravo no Egito? Mostre para mim, Senhor, a tua vontade”. Basta que se leia a narrativa bíblica de Gênesis 45 onde o próprio José interpreta sua história dizendo: “Deus me trouxe para cá. Ponto final. Vocês, meus irmãos, me venderam e me enviaram para o Egito, mas na verdade foi Deus quem me trouxe”. A vocação profética de Jeremias, o apostolado de Paulo, e a morte de Tiago não são exemplos de Vontade Específica de Deus, mas sim de sua Vontade Soberana.
Você não vai encontrar na Bíblia um versículo sequer que fale a respeito da Vontade Específica de Deus. Quando a Bíblia fala em vontade de Deus, a Bíblia fala em Vontade Soberana e Vontade Moral, além de falar de alguns desejos de Deus para a sua vida, que você pode inclusive descartar. Quando o apóstolo Paulo diz em sua primeira carta aos Tessalonicenses: “Esta é à vontade de Deus, a vossa santificação”, está fazendo referência a uma Vontade Moral ou um propósito de Deus que você pode frustrar. Quando diz em Romanos 12:2: “Rogo-vos que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus... e que não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis a boa, perfeita e agradável vontade de Deus”, está falando de um propósito de Deus comum a todos os cristãos. Quando o apóstolo ora pelos cristãos em sua carta ais Colossenses 1.9-11 para que “sejam cheios de todo o conhecimento da vontade de Deus”, ele não está falando a respeito de vontades específicas para decisões específicas em circunstâncias específicas, mas sim a respeito da compreensão a respeito de qual é o jeito que Deus quer que todos os cristãos vivam. A vontade de Deus expressa na Bíblia, usada para defender a vontade específica, na verdade refere-se muito mais a um jeito de viver agradável a Deus do que uma decisão que precisamos tomar. Deus é apresentado na Bíblia como Rei, Pai, e, no Salmo 23, como o Bom Pastor. Ora, como é que um rei administra o seu povo? O rei decide pelo povo? Não, o rei legisla para o povo, e diz ao povo que enquanto o povo está dentro dos parâmetros da legislação, ele vive em paz. Como é que o pai educa o seu filho? Ele dá ao filho as ferramentas para que o filho aprenda a andar com suas próprias pernas, e acompanha o filho amorosamente enquanto o filho anda, mas o pai não fica decidindo pelo filho. O sujeito com 40 anos em casa e diz: “Papai, eu não sei com quem devo me casar, o que o senhor acha?” Isso evidencia uma educação de qualidade duvidosa. Pedir conselhos, ouvir pessoas mais experientes e buscar a aprovação paterna é uma coisa, mas transferir o peso da responsabilidade de decidir é outra. O processo educativo que não conduziu à autonomia, mas gerou uma dependência doentia, não encontra respaldo na Escritura. Como é que o pastor cuida de suas ovelhas. Ele não fica com o cajado apontando a moita certa para cada ovelha, nem tampouco divide o rebanho em turnos para revezamento separando quem bebe água e quem descansa na sombra. Ele conduz as ovelhas a uma pastagem de grama verdinha, águas tranqüilas e diz às ovelhas o seguinte: “Fiquem aqui onde eu posso ver vocês, porque se vocês saírem de meu horizonte de visibilidade o lobo come vocês. Aqui nesse meu horizonte de visibilidade vocês podem decidir que moita vocês comem, se vocês dormem, bebem água, se vocês ficam em pé, deitam, ficam na sombra ou no sol. Vocês decidem. Mas desde que não saiam do meu horizonte de visibilidade”. Ora, seria muito estranho eu lhe dar um relógio e você ficar perguntando as horas para mim, não seria? Deus nos instrumentaliza, e essas figuras bíblicas apontam para isso. A busca sincera da Vontade Específica de Deus é mais desastrosa quando o castelo desmorona. Pessoas que se meteram em empreitadas convictas de que estavam fazendo a Vontade específica de Deus geralmente se lamentam: “Mas eu orei tanto...” Toda vez que o passo se justifica pela Vontade Específica de Deus, o fracasso também desaba nas costas de Deus. O resultado é frustração. Na maioria das vezes, seguida de decepção. Inclusive com Deus. A pergunta mais freqüente que ouço é: “Por que Deus fez isso comigo?” A grande tendência humana é atribuir a Deus a causa primeira de todas as circunstâncias de sua vida. Especialmente quando se trata de decisões tomadas piedosamente, sob oração sincera, e desejo de agradar a Deus. De fato, parece grande pretensão humana afirmar que Deus está subscrevendo cada decisão que tomamos.

Este conceito de Vontade Específica significa pretender que cada decisão que tomamos equivale exatamente à decisão que Deus tomaria caso estivesse em nosso lugar, o que, convenhamos, não faz sentido. Pretendemos ser como Deus? Pretendemos lavar as mãos diante do ônus de viver? Pretendemos abrir mão da mais alta dignidade que Deus conferiu ao ser humano, a saber, a oportunidade de ser ator e não apenas espectador? Preferimos o papel da marionete, em detrimento da humanidade à imagem e semelhança do Criador? Amado, diante de uma decisão, não dê um passo antes de cair de joelhos: “Confie no Deus Eterno de todo o coração e não se apóie na sua própria inteligência. Lembre-se de Deus em tudo que você fizer, e Ele lhe mostrará o caminho certo”. O cristão deve viver com sabedoria, e não apenas decidir com sabedoria. Na verdade, o sábio Salomão não está falando de Vontade Específica de Deus, mas sim de um estilo de vida que gravita plenamente ao redor de Deus: “lembre-se de Deus em tudo o que você fizer”... “Não fique pensando que você é sábio, tema o Eterno e não faça nada que seja errado”. Em outras palavras, não saia dos limites da Vontade Moral de Deus.

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