Eu me lembro quando minha filha Luciana nasceu. Fiquei tão maravilhado com aquele ser tão pequenininho e frágil que na verdade me preocupei pensando se me restaria amor para um segundo filho. Mas quando o Leo chegou, foi como se trouxesse com ele um presente maravilhoso pra mim, toda uma nova capacidade de amá-lo especialmente. Pensando bem, é assim que entendo o amor de Deus para conosco. Quando penso em cada um dos meus filhos individualmente, descubro que gosto especialmente de cada um.
Mas e quando eles não se comportam, ou quando fazem escolhas diferentes das que eu gostaria que fizessem, ou quando são agressivos e grosseiros? E quando eles me embaraçam na frente dos outros? Como isso afeta o meu amor por eles?
Na verdade, não afeta. Admito que isso me incomoda e algumas vezes fico sem graça e com raiva, mas mesmo quando eles agem mal, ainda são meus filhos e serão para sempre. O que fazem pode afetar meu orgulho, mas não meu amor.
O amor é simplesmente a pele do conhecimento. Amamos nossos filhos que conhecemos tão bem com um amor maravilhoso e verdadeiro.
Mas quando vemos crianças morrendo nas mãos de estupradores violentos, ou velhinhos sendo agredidos brutalmente por aqueles que deveriam cuidar deles, não acreditamos que Deus ama todos os seus filhos muito bem, não é mesmo?
Evidentemente, que nós já nos consideramos bastante capazes de julgarmos. Quem nunca julgou ninguém durante toda a sua vida? Nós somos craques em julgar os atos e até mesmo as motivações dos outros, como se soubéssemos o que levou fulano a fazer isso, o que levou beltrano a praticar aquilo. Julgamos a cor da pele, o jeito de falar, a linguagem corporal e até a catinga do sovaco ou o bafo dos outros. Julgamos histórias e relacionamentos. Nós somos até capazes de julgar o valor da vida de uma pessoa segundo nosso conceito de beleza. Em todos os sentidos, nós nos aperfeiçoamos e somos bastante treinados nessa atividade de julgar os outros. Quem é que não tem o impulso de julgar as ações e intenções dos outros? Julgar exige que a gente se considere superior a quem a gente julga.
Mas, que direito nós temos de julgar alguém? Somos culpados de julgar praticamente todo mundo que conhecemos e até mesmo muitos desconhecidos. Somos culpados por sermos egocêntricos. Como é que ousamos julgar os outros? Todos os nossos julgamentos são superficiais, baseados na aparência e nos atos, motivados por preconceitos, estados de espírito ou por nossa necessidade de nos sentirmos melhores ou superiores. Isso me deixa em pânico, amados.
Certamente há muitas pessoas no mundo que achamos que merecem julgamento. Que tal os gananciosos que exploram os pobres do mundo? Que tal os que promovem as guerras? Que tal os que agridem as mulheres, que fazem mal aos velhinhos? Que tal os pais que batem nos filhos sem qualquer motivo além de aplacar seu próprio sofrimento? Eles não merecem julgamento? E que tal um predador de menininhas inocentes? Esse homem é culpado? Ele deve ser julgado? E o pai dele, o homem que deformou o filho até que ele se transformasse num terror? E ele? Até onde devemos voltar? Esse legado de deformação remonta até Adão. E ele? E não vamos parar por aqui. E Deus? Deus começou essa coisa toda. Deus deve ser culpado? O fato de Deus saber, antes da Criação do mundo, que um dia uma criança seria brutalizada e mesmo assim a ter criado e depois permitir que uma alma deturpada a arrancasse dos braços amorosos de sua mãe, quando Deus podia impedir, Deus não deve ser culpado?
Se podemos julgar Deus com tanta facilidade, então certamente poderemos julgar o mundo. Será que eu poderia escolher somente um de meus filhos para passar a eternidade no novo Ceu e na nova Terra de Deus? Será que eu seria capaz de escolher um dos meus filhos pra passar a eternidade no inferno? Se é difícil pra mim ou pra voce fazer uma coisa que a gente acredita que Deus faz, imagine pra Ele. Deus conhece todas as pessoas já concebidas e muito mais profunda e claramente do que nós conhecemos ou jamais conheceremos de nossos filhos. Ele ama cada um independente do que saiba o que esse ou aquele filho vai fazer mais tarde. Ele ama cada um segundo o que conhece do ser desse filho ou daquela filha. Voce acredita que Ele irá condenar a maioria à uma eternidade de tormento, pra longe de Sua presença e de Seu amor? Se voce acredita nisso, então voce acha que Deus faz isso com facilidade, mas voce não! Qual dos seus filhos voce condenará ao inferno?
Se um de nós tiver que condenar um de nossos filhos ao inferno, seria fácil acreditar que nossa reação seria pedir: Eu não posso ir no lugar dele? Se tem que haver alguém pra ser torturado por toda a eternidade, eu vou no lugar dele. Pode ser? Eu poderia fazer isso? Por favor, deixe-me ir no lugar do meu filho... Agora, voce percebe que voce já está falando como Jesus? Agora voce julgou bem. Voce julgou que seu filho, independente do que ele faça ou seja, é merecedor de amor, mesmo que isso lhe custe tudo. É assim que Jesus ama. E agora voce conhece o coração de Deus, que ama todos os filhos com perfeição.
Deus ama tanto seus filhos, que Ele não impede um monte de coisas que Lhe causam dor. O nosso mundo está muito deturpado. Nós exigimos a independência e agora temos raiva daquele que nos amou o bastante para nos dar o mundo. Nada é como deveria ser, como Deus deseja que seja e como será um dia. Neste momento nosso mundo está perdido na escuridão e no caos e coisas horríveis acontecem com aqueles de quem Deus gosta especialmente.
Então voce pode dizer: Então por que Deus não faz algo a respeito? E eu respondo: Ele já fez. Por amor. Ele escolheu o caminho da cruz, onde a misericórdia triunfa sobre a justiça por causa do amor. Voce preferiria que Ele tivesse escolhido a justiça pra todo mundo? Voce quer justiça, “meretíssimo juiz”?
Deus nunca precisou do mal para pra realizar seus bons propósitos. Fomos nós, seres humanos, que abraçamos o mal, e Deus respondeu com bondade. O que aconteceu e acontece com criancinhas, velhinhos e pessoas inocentes é trabalho do mal e ninguém no nosso mundo está imune à ele.
Nós temos que desistir de sermos juízes de Deus e procurarmos conhecer a Deus como Ele é. Então, no meio de nossa dor, nós poderemos abraçar o amor Dele, em vez de castigá-lo com nossa percepção egocêntrica de como achamos que o universo deveria ser. Deus se arrastou para dentro do nosso mundo para estar conosco, para estar com cada criança violentada, com cada pessoa assassinada, pela influência maléfica de Satanas.
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